“Planto flores no caminho para que não me faltem as

borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo

não é o fim. É o começo."

Day Anne



1 de fev. de 2012

O corpo tem memória!



Imagem por Helena Venzke

Eu estou vivendo um momento esquisito, de adaptação a uma cama - nova. O corpo rolou a noite toda, amanheceu dolorido e triste de saudade do colchão que o abraçava, acolhedor, amigo, reconfortante. Precisou ser beeeeemmm alongado no pilates, afinal, precisa estar cheio de disposição pra sentar-se no chão, correr atrás de menino arteiro, dar milhões de abraços demorados.
Bom, saindo da academia me dirigi à loja, por duas razões simples: a base da cama, tipo box, veio com falha na costura - considero que uma marca pra lá de (re)conhecida pecou no acabamento e isso me surpreendeu - e pra contar de meu desconforto, trocar uma ideia sobre as possibilidades de trocar o dito colchão por um mais macio, talvez. Fui instruída a dormir por mais uma semana (doeu só de ouvir!) para que o corpo se adaptasse, uma vez que tem memória e está buscando pelas sensações habituais. Tá eu melhorei muito a tal explicação, mas, em essência, é isso, e eu concordei, mas já fui me adiantando, querendo saber se a tal adaptação não ocorresse, se seria possível trocarmos apenas o colchão pelo que tem mais maciez nas fibras do látex. Ouvi esta resposta, vejam se nesta loja consideram que a satisfação do cliente é um critério importante de avaliação e, mais - e pior, se houve respeito no trato com uma cliente educadamente sorridente, bem humorada, apesar de dolorida: - "E se a senhora não gostar, depois de uma semana, vai chegar aqui querendo trocar de novo?"
Lamentos a parte, saí de lá decepcionada, avisada de que seria aberta uma ocorrência (oi?) e compromissada com a tal tortura semanal. A tal base será substituída, porque é impensável que o controle de qualidade não tenha visto, e eles têm compromisso, nesse quisito, com o público. Menos mal que se obriguem a atender a um rigoroso controle de qualidade (é, eu também ri disso!) que vai substituir a parte que nem é visível, pois trata-se da base de sustentação de um mero colchão desenvolvido pra dar conforto. Com isto o cliente não pode ficar insatisfeito!! Deixando de lado a ironia, também saí de lá com uma frase se repetindo, louca pra ser explorada: nosso corpo tem memória!
Faz como eu, esquece a cama, e vamos pensar juntos sobre isso...

Concluí que tem memória sim, olfativa, de tato, de paladar, de visão, de audição.
Eu me peguei sentindo algumas sensações que a memória da pele guardou, pra sempre, lembranças do que os músculos provaram, e os olhos fechados trouxeram os toques, os cheiros, o calor, o aconchego, a saudade relativa às memórias que armazenam o prazer; como o frio que as manhãs desagasalhadas de carinho desejam outros amanheceres, ou a sensação vívida de um abraço demorado, ombro molhado das lágrimas silenciosas a drenar alguma dor antiga - minha, deles, delas, nossa! E o toque das mãos, de lábios, de ombros - de corpo inteiro? E o que dizer da textura das vestes gentis da pele do outro corpo, das roupas, das superfícies...
E o cheiro? meu Deus, como é verdade que o corpo lembra do talco daquele bebezinho que acalentou, do cheiro de leite que os intervalos das mamadas não venciam guardar, da loção de uma pós barba que não arranhou, do suor dos corpos que se atraíram e se roçaram, do sabonete, do creme, do perfume.
E o sabor da boca, da pele, das lágrimas, do chocolate lambido no dedo gentil - e de outras artimanhas que o amor sabe oferecer...ah, o sabor!!
O corpo tem memória auditiva, reconhece os chamados, o encantamento do silêncio, os ruídos íntimos, as delícias ditas roçando os lábios na pele. O corpo ouve apelos, faz apelos - e ouvidos moucos.
E também enxerga coisas que nenhum outro sentido vê.
O corpo tem memória, definitivamente - e o fato desta frase ter propiciado um delicioso passeio pelas sensações - e minhas memórias - é a parte boa de uma conversa que poderia ter sido mais empática.
De um evento desagradável, ocupei-me da lição que me proporcionou, daquilo que me trouxe de bom - dolorida, mas aprendiz da vida!


*A imagem escolhida - por representar a leveza, a intensa beleza de minhas memórias e a transformação compartilhada com vocês - foi um presente ganho esta manhã da Helena, uma sobrinha reconhecida pelo coração, sensível e adorável!


24 comentários:

Milene Lima disse...

Hahaha! A pergunta do vendedor foi bem sutil e educada, misericórdia!

E os cheiros, tem mesmo um poder incrível e por isso se tatuam no corpo e na memória.

Lindo texto, moça inspirada.
Beijo... E tomara que passe rapidão a semana nesse colchão malvado.

R. R. Barcellos disse...

Primeiro: acho que você tem o prazo legal de 30 dias para trocar qualquer mercadoria sem dar maiores explicações.
Segundo: teu corpo ainda vai se lembrar de mim. Espero...
Beijos.

Leonel disse...

Parabéns!
De um fato desagradável você ainda conseguiu criar coisas boas!
Esta historia me lembra de uma vez em que fui comprar um sapato e desisti, porque me apertava. O vendedor me falou que "com o tempo, ele cedia e se adaptava ao pé..."
Ou será que o meu pé é que iria ceder e ficar deformado pelo sapato?
O consumidor tem que se adaptar às falhas do produto?
Só no...Brazzziiiiuuu!
Abraços, Denise!

Unknown disse...

adorei a imagem, muito delicada. tenho que dizer ao meu corpo urgente para esquecer doces, pães brancos, enfim, tudo o que é gostoso...:(
Beijos

Ivana disse...

Tudo tem seu lado positivo, o prazer que suas lembranças lhe proporcionaram vale mais que qualquer dissabor com o defeito da cama. Parabéns pelo post, e pela foto muito bonita de sua sobrinha(de coração) Helena. Um abraço!

pensandoemfamilia disse...

De tudo aprendemos.
Como é séria a questão da adaptação. Nas férias sofro um pouco com isto, musanças de camas em função nos hotéis.
bjs

Denise disse...

Mi...já tem algum tempo, a nova visão das coisas da vida me auxiliam bastante...nesse caso específico, claro que demonstrei minha contrariedade, mas me retirei antes que as coisas pudessem ficar desagradáveis. Muitas vezes, não fazer nada, é tudo que precisamos fazer...simples assim...rs

A semana ficou mais curta quando decidi ir às lojas reformar meu enxoval...o noivo vai aproveitar a fase das mudanças, por inteiro...rsrsrrrs

Bjos, amiga solidária e querida!

Denise disse...

Rodolfo, vou esperar a semana passar, sentar-me educadamente diante dela e fazer novo pedido...rs
O teu toque minha alma já conhece, tantas vezes acarinhada pelas tuas palavras e gestos expressivos, amigos, carinhosos! Falta o abraço - vc sabe que adoro! - o aconchego de caber num abraço cheio de afeto, que envolve calor, cheiros, tantas diferentes emoções! Tudo pra ficar mapeado, registrado, eternizado!

Enquanto isso não acontece, recebe meu beijo encantado!

Denise disse...

Pois é Leonel, esse papo de vendedor me faz pensar em boas respostas...que, normalmente, dou mentalmente, e, diluída a raiva inicial, sobra um sorriso e um bye-bye...rsrs

Neste caso, não desisti não, apenas vou cumprir o prazo formal. Ninguém me desvia da decisão de crescer, Leonel, aprendo com tudo!
Um grande abraço!

Denise disse...

rsrsrrs...ai Jeanne, esse convencimento parece tãããoooooo difícil, né? o meu corpo adora esses prazeres, mas quando se vê....ai ai ai...choooora!

A fotógrafa é de uma sensibilidade ímpar! E já fotografou várias espécies, incluindo principalmente aves...aguarde que tem mais imagem linda!!

Bjocas, amigaúcha querida!

Denise disse...

Oi Ivana, acertou em cheio minha amiga!! Esse ensaio me permitiu o contato com preciosas lembranças, algumas saltaram diante de mim, que, surpresa, recebi, reconheci e agradeci! Realmente foi uma deliciosa viagem...e vc sabe, as borboletas são uma fascinação - pelo que representam e pela diversidade impressionante que a espécie tem. A Helena tem a leveza de uma, a sensibilidade e o dom de voar em direção do que deseja - além de estar na metamorfose mais bonita da vida, na minha opinião! Amo de paixão!

Um beijo, ótimo fds pra ti!

Denise disse...

Eu já fui mais relutante às mudanças, tanto ouvi sobre sua necessidade primordial, que incorporei....rs. Mas é um processo, lento, embora não precise ser ruim...rs

Bjos Norma, que bom que as férias foram boas pra vc tb!

Cida disse...

Muito linda a imagem, e o texto delicioso de se ler.
:)

Em setembro passado, maridão e eu também mudamos o colchão...
Na primeira noite, fiquei me perguntando porque lá na loja o colchão estava tão aconchegante, e em casa ele havia ficado tão esquisito.
Pra resumir a história, te digo que após uma semana, ele já havia virado o "colchão dos meus sonhos", e meu corpo já havia se acostumado completamente a ele.
(com o marido aconteceu a mesma coisa).

Ainda bem que o ser humano é tão "adaptável", né?
:))

Beijão pra você, e tenha um lindo e feliz final de semana.

Cid@

MARILENE disse...

Fato similar ocorreu com minha irmã. Toda feliz com o novo e "maravilhoso" colchão, não dormiu à noite e meu cunhado , já pela manhã, queria o antigo de volta (rss). Ela foi mais feliz que você, porque , diante de sua negativa em experimentá-lo por mais uma semana, acataram , de imediato,seu pedido de troca.
Você, com bom humor e sabedoria, encontrou no fato instrumento para uma ótima colocação, sobre a memória do corpo, tão verdadeira!
Bjs.

Denise disse...

Pois é Cida, a fase de adaptação é uma realidade, e, graças a Deus, somos feitos à ela. Que bom que pra vcs deu certo! Neste caso, entretanto, vou precisar mesmo substituir...acho que de tanto experimentar, na loja, os colchões ficam como a gente quer depois de ANOS de uso....não vou esperar por isso...rsrsrs
Eu bem que estou tentando, mas a semana tá custando a passar!

Bom fds, amiga.
Bjos

Denise disse...

Marilene, eu optei por seguir os critérios do fabricante/vendedor...assim não sobram dúvidas, ao final - e eu cumpri minha parte, certo?...rs

Beijos!!

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, querida amiga Denise.

Um colchão adequado é a base para um sono gostoso.

O que eu achei engraçado, é que justamente quando começaram a nos orientar que devemos trocar os colchões, de tempo em tempo por causa dos ácaros, aí inventaram esses que estão na moda, e praticamente são dois juntos, numa espessura imensa, onde caberão muitos e muitos ácaros.

Tenha um lindo domingo de paz.

Beijos.

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Sobre os vendedores, estamos atravessando uma fase esquisita, porque muitos deles nos atendem mostrando claramente que estão até com raiva de estarem naquela função.

Antigamente a regra número um, era tratar o cliente com educação, gentileza e presteza.

As leis atuais são mais justas e protetoras, e a gente não vê satisfação nos trabalhadores.

Parece que todos querem chegar lá em cima, sem subir degrau por degrau.

Beijos.

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Olá Denise. Pura verdade. Acho que todos têm um caso para ratificar a memória do corpo: um velho travesseiro, aquela mantinha velhinha e rasgadinha... Beijos.

Maria Lucia (Centelha) disse...

...e no final resultou nesse seu texto tão bonito, bem escrito, com boa dose de humor e otimismo, apesar do ocorrido. Só mesmo o brasileiro que sabe tirar das coisas ruins,algo positivo.
Bem, afinal somos filhos do bom Deus, que faz isso dia e noite em nossas vidas...acho que temos é herança genética da paternidade divina..rsss...
Ahh, já estou te seguindo.
Semana abençoada pra todos nós,amiga!

Beijinhossss

Denise disse...

Pois é Amapola, tenho em outra cas, colchão de muitos anos atrás, a prática atual realmente nos induz ao consumismo, mas, no meu caso, foi substituição por inúmeros motivos - nenhum relacionado aos ácaros ou tempo de uso.
Quanto aos vendedores, evitando a generalização, ainda bem que temos muitos atenciosos, bem humorados. e isso, pra mim, é um estímulo a efetuar a compra. Ocorre que na venda, a vendedora foi suuuuper querida, o problema surgiu na tal visita que fiz, e que vou repetir amanhã - que é quando vence o prazo burocrático...não foi possível acostumar-me, terei outro colchão, simples assim...rsrs

Um beijo feliz pela tua visita!

Denise disse...

Vc falando Maria José, "enxerguei" o travesseirinho que minha filha dormia, a mantinha deles...e algumas roupas que tive e tive dificuldade em me desfazer...entre tantas outras lembranças, sempre virão as que vão despertar junto com pequenos sinais, sons, gestos, toques...

Um beijo grande, pra vc levar o carinho que te tenho!

Denise disse...

Maria Lucia, seja bem-vinda ao Tecendo, sinta-se acolhida com carinho e alegria!

Eu tenho aprendido a transformar um pouco as coisas "ruins"... acho que o otimismo e o bom humor são fundamentais, procuro preservá-los!

Um grande abraço de boas vindas!

Denise disse...

Olá Iberê<

já te encontrei em outros blogs amigos.
Vou te visitar.
Abraço!