“Planto flores no caminho para que não me faltem as

borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo

não é o fim. É o começo."

Day Anne



13 de fev. de 2008

Magnifique!!

Obtive a honrosa permissão para publicar as "Idéias tecidas" por esta menina-talento-grandiosa! sim, ela mais que seu escrito, embora seja ele um primor fácil de constatar e impossível de negar...deleite-se!!



LE GRAND JETÈ

Em fusas e semifusas, no ato de um baita grand jetè. É como me noto. Meu tempo anda acelerado. [Assim ele caminha e passa, perceba-se; são seus passos]. Até minhas semibreves, obtusas, vão extemporadas. Notas que dançam sem partitura. Cintilantes e nuas. Reflexos das muitas de mim.

Salto de ouvido, suspendo sentidos, abandono o chão. Frios no estômago, calafrios, imensidão. Rodopio, extasio, misturo. Emendo mil piruetas e vejo todas as cores num imensurável buraco de luz. Vejo tudo branco. Ou preto. Afinal, tanto faz. Não tenho medo do escuro, do amor ou da morte. Acho mesmo que a má sorte se esconde-e-mostra no tamponar da pulsão, numa espécie de tempo-controle, tempo-prisão.

O meu tempo pela métrica proibido, tempo meu tão exclusivo, não se encaixa, transita solto pelos vãos. Nele eu não sôo clandestina, vibro autêntica, espanto a surdina, desconexa da contagem técnico-estrita da racional-musicalização. Vivo assim, descompassada, numa minha espécie transdimensionada, meu entretempos, gênero único de vazão.

É que sou infinitamente mais rápida do que eu mesma. E acabo que não me alcanço. Inspiro oxigênio e troco-me toda, expirando-me em toques mansos de imersão. Ou em rompantes robustos de explosão.

Seja como for, eu acelero, revolvo, destôo. Eu, Amor, eu desafino. E, felizmente, provoco em mim imensa dor. Não poupo o peito não. Eu corro, corro mesmo dessa apresentação plenamente coreografada, previamente controlada, magna farsa de compaixão. Não quero ver o mundo por um molde, sempre-sempre o mesmo acorde, que engessa a vista e hipnotiza o coração. Sinto enjôo, angústia e náusea. Rasgo-me toda. Abro-me sustenida, sustenida. Assustada e temida. Gozo a dor. Eu gosto. Se não dói, sou morta-viva, inanimada, domesticada, sem parâmetro nem calor. Prezo a harmonia singela, naturalmente bela, sem aquelas tantas regras a sufocar elevações.

Pausas e mínimas são o que me fazem colcheia. É pelo vazio que me escuto inteira. Afinal, quando não há falta, o homem despenca, sem gravidade. E isto eu, de fato, parece que efetivamente sou: sou grave. Gravíssima. E simultaneamente aguda. [Desço e subo, exploro a escala, mudo e mostro a cara, maquiada de instinto e intuição]. Sou de um agudo tão agudo que, não raro, ensurdeço-me toda. [Antes aguda do que agüada, morna, destemperada]. Tenho a minha constante. E, do contrafluxo, derramo e limpo o luto, que volta curtido e cantado à minha maneira. Intratemporal.

Grand jetè, passo profundo. Um salto pra cima é mergulho pra dentro; e pro mundo. Sinto tilintar. Ouço calma, vivo paz. Respiro tão piano que adormeço. Suavemente, de olhos abertos. Sonho, salto, levito e vôo. Solo Mor. Sol Maior.

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