“Planto flores no caminho para que não me faltem as

borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo

não é o fim. É o começo."

Day Anne



8 de dez. de 2007

As pequenas grandes coisas


Na observância das grandes coisas, perdemos a beleza tênue das coisas pequenas. Pequenas e sublimes, como um sorriso brejeiro, uma lágrima descuidada, um olhar terno, um gesto nobre, uma mão estendida, um coração generoso, um grito preso, uma dor disfarçada, um afago tímido, uma palavra de conforto, uma criança dando seus primeiros passos. Essa prática funciona como uma algema invisível aos nossos olhos vorazes. Ficamos presos à grandeza que salta aos olhos, ignorantes da delícia que é apreciar um momento fugaz.
Somos mestres em valorizar os grandes feitos, difundir grandes idéias, repetir pensadores que a humanidade perpetua, prestigiar os vencedores, aplaudir astros renomados. Nada errado em apreciar a beleza das coisas e a grandeza das pessoas. O equívoco está no desprezo que dispensamos às causas pequenas, nos pequenos avanços ignorados, no desrespeito pelos gestos tão sutis, carregados de belas intenções. Perdemos quando o olhar é obtuso e de pouco alcance, quando não lançamos mão dos aprendizados que tivemos, quando optamos pelo clamor que encobre o tom doce de uma voz que sussurra carinhosamente.
Temos uma tendência quase mecânica a desviar a atenção para o volume, as cores brilhantes, as vozes barulhentas, os portes imponentes. Quantas vezes as trevas mesquinhas nos impedem de ver além...tantas coisas deixamos de perceber pelo vício de nos deixar dominar pela grandiosidade aparente. E quantas coisinhas pequenas preenchem nossos corações e nos dão a sensação de ganhar o mundo! No entanto, teimosamente, direcionamos a atenção para o glamour que enche os olhos, esvaziando-nos de emoções.
Nossa utópica visão nos rouba os maiores prazeres, nos remete ao vazio das sensações frouxas e efêmeras. E é piegas voltar-se para os sentimentos que enobrecem, ousar enaltecer gestos simples ou proferir palavras elogiosas. Logo se ganha o rótulo de sonhador ou passa a ser considerado um alienado, porque desconhece as maravilhosas deste mundo, ou ainda, romanesco, por valorizar as pequenas coisas em detrimento das que simbolizam as grandes conquistas pelas quais o homem luta tanto. Esta é, seguramente, uma luta desigual, onde duas faces de uma mesma vida são tão antagônicas. Infelizmente, haverá maior número de expectadores ávidos pelo colossal, cingindo o direito da minoria em voltar-se, discreta e mansamente, para a “pequenez” que agiganta sua alma.
No fundo, sabemos todos destas pequenas colocações feitas, e movemo-nos com a lentidão própria dos hesitantes em direção ao revés dessa situação. Acovardados, preguiçosos ou displicentes? Talvez temerosos das críticas mordazes que cerceiam nossas ações, reprimem as emoções e freiam os sentimentos mais puros. Quem sabe, se fossemos acordados por um simples gesto...uma palavra...um olhar...

♥ Denise

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