“Planto flores no caminho para que não me faltem as

borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo

não é o fim. É o começo."

Day Anne



8 de dez. de 2007

Escravos do encantamento


Nós somos escravos do encantamento.” Numa noite qualquer, em conversa entre amigos usei essa expressão, que, de imediato, despertou nos interlocutores um desejo de compreensão que tentei explicar, embora de forma estritamente subjetiva, uma vez que a expressão é resultado de uma forma particular de articular sentimentos e emoções em relação ao outro que, quando nos atrai ou nos envolve, nos “escraviza”.

A magia que envolve o encantamento que nos toma possui uma espécie de algema que nos acorrenta, prendendo a atenção, ampliando a percepção do outro, nos envolvendo de forma irrevogável, pois que nos invadem sensações que não temos controle. O fascínio nos arrasta sem que tenhamos o domínio das emoções, preenchendo todos os espaços vãos de nossos pensamentos. Submersos por esse encantamento, o presente parece mágico e os planos futuros articulamos baseados nessas sensações, sonhando e desejando ardentemente permanecer para sempre envoltos nesse mistério que nos atrai, tentando não quebrar nunca a magia desse cenário perfeito.
Prossigo na tentativa de mostrar, no meu entendimento, a magnitude desse fenômeno, esclarecendo meu pensamento acerca de um dos pontos questionados: a duração desse “estado de encantamento” é estritamente pessoal, dependendo de como cada pessoa o alimenta. Argumento ainda que não acredito que precise ter finitude, uma vez que podemos retroalimentar nossos sentimentos e intenções já que é decisão pessoal “o como” vivenciar as relações que construímos. Essa minha "teoria" talvez denote uma característica pessoal que é de ser uma eterna sonhadora, mas o que explica a manutenção da paixão, do amor, se não o estar encantado pelo outro, pelo que representa e significa, subjugados aos efeitos incontestáveis do encanto que nos mantém reféns mergulhados num completo estado de arrebatamento?
Argumentou-se então que paixões acabam, amores morrem. Então ponderei ampliando a discussão: foram bem cuidadas essas relações? foi cultivado o ato de surpreender? houve empenho em conquistar o outro a cada dia ? o que foi deixado de ver e, principalmente, de fazer? houve descuido da relação? teria sido a acomodação que determinou seu fim? o olhar sobre a relação que mudou ou mudou o outro? São intermináveis as possibilidades e questões, assim como se pode discorrer largamente em relação ao encantamento e suas implicações na sustentação ou no término das relações afetivas.
Ao buscar compreender o que seria o oposto, o desencantamento, foi consenso geral de que significaria não estar mais sob o fascínio mágico que seduziu e escravizou anteriormente, e essa inversão pode estar denunciando evidências de fatos que levaram a desilusões forjadas por frustrações acerca das verdades encobertas e agora visíveis do outro. Houve total acordo de que, ao idealizar o outro mantendo altas as expectativas, freqüentemente a tendência é resultar em desencanto frente à realidade que mais cedo ou mais tarde se impõe. Tais insatisfações que envolvem a idealização acerca do outro e do que espera da relação, contribuem para minar lentamente as possibilidades de um relacionamento saudável, podendo implicar num dos "porquês" de não se manter duradouro.
Ao final da acalorada troca de impressões, a concordância geral foi de que somos sim escravos cativos do encantamento, e mais: instintivamente não queremos ser libertados desse seqüestro (in)voluntário, lutamos para manter a magia que estabeleceu uma relação cheia de entendimento, encantamento...conjugando de forma perfeita o verbo “amar”!
"Quando se fala do amor...ah! o amor...
Todos provam em suas vidas esse sentimento
E felizes aqueles que amam e esquecem a sua dor
Permanecendo,
para sempre, escravos do encantamento!"

Denise

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