"Só está ali, à sua frente, como um punhado de argila à espera de que você o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer [...] e se você não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente."
Caio F. Abreu faz uma interessante analogia sobre o livre arbítrio, sobre a feitura da vida pelas próprias mãos; e eu pego esse "gancho" para pensar na maneira como construímos o mosaico da vida. Como uma imensa colcha de retalhos, reunimos as partes de nós e tecemos esta existência. Alguns desses pedaços não têm a cor vibrante da estampa feliz, mas carrega o aprendizado nas marcas que desenhou pelas escolhas que fez. Mesmo as eleitas como piores, podem anunciar dias radiantes no futuro, ainda que opacas pela realidade incompreensível na hora do alinhavo, esquadrinhando o lugar onde vai repousar aquela parte que ajuda a compor nossa história. Parece, por vezes, que não se encaixa bem em lugar algum...
A cesta da existência está cheia de recortes, cada um em seu tamanho e cor, abrigando a beleza dos traços que fizemos ao colorir os momentos que vivemos - não importa com quais cores. Se nos afastarmos da obra e observarmos o material colhido e disposto ao todo que nos confere identidade, seremos capazes de identificar onde nossas mãos agiram habilmente, em que lugares as manchas evidenciam as lágrimas que misturaram as cores, e ainda, aquela aquarela que se fez sozinha, pela ausência do artista maior do próprio enredo da vida. São os instantes em que depomos as armas e abandonamos a luta, aquela parcela da vida em que o cansaço vence o labor festivo ou o medo assume a arquibancada ao assistir a estagnação da ininterrupta construção.
Além desta consideração, me ocorre somar a relevante reflexão de que, cada parte que unimos à outra, se prende pelos fios que usamos para coser esta estamparia na oficina da vida. Presentes estão um conjunto infinito de emoções, sentimentos e pensamentos que assumem a tutela artesã desta obra incompleta.
Uma colcha de retalhos - tal qual a vida - ao ser tecida, permite escolher o lugar onde cada pedaço vai dar a mão ao vizinho morador de um outro pedaço que adorna a história construída, porém, uma vez costurados lado a lado, dispostos estão para sempre, naquele momento presente. O que muda tudo lá na frente, são as sobras de seu mesmo tecido que podem, novamente, desenhar outra estampa de combinações diferentes...
Nenhum comentário:
Postar um comentário