O almoço nem estava assim tão bom, mas me mantive sentada, presa na conversa da mesa ao lado. Não pense que por bisbilhotice, inclusive peguei o bonde andando, mas como não ouvir os argumentos daquela garotinha para sua jovem e bonita mãe - que conduziu a conversa com o rosto sereno, a voz firme e carinhosa, sem pressa?
- Você sabe que eu vou porque você me obriga, mas eu não gosto de ficar com meu pai no fim de semana. Eu gosto de ir nos lugares com ele, mas ficar na casa dele, eu não gosto.
- Minha filha, já falamos tanto sobre isso... compreenda que você não tem nada a ver com as questões da mamãe e do papai.
- Mas ele fez você chorar!!!! Tinha lágrimas enchendo os olhos vivos da menininha. A mãe não se abalou, e foi nessa hora que eu tive ímpetos de levantar e cumprimentar aquela mulher miúda rosto meigo, fino, lábios firmes, olhar carinhoso. Ela devolveu pra filha:
- Queridinha, a mamãe também disse coisas muito feias pra ele, mas como você não estava lá pra ver, não sabe que ele também chorou.
Ela entreabriu os lábios, os olhos piscaram, mas não disse uma palavra!
- * Mônica, com 7 anos você não consegue entender uma porção de coisas, eu já expliquei pra você que os adultos tem motivos pra escolher não ficar mais com as pessoas, mas que você não tem nenhum motivo pra defender um de nós. Você não pode escolher amar mais um de nós, eu sei que você ama o papai igualzinho, não ama?
Um gesto de cabeça, apenas, confirma.
- O papai magoou muito a mamãe, mas eu também magoei teu pai. Essa história é nossa, minha e dele, você não tem que tomar partido. O que você precisa entender é que nós dois te amamos muito, e você é a bonequinha do papai, lembra?
A menina não pareceu aceitar a argumentação. Baixou a cabeça, olhando para as mãos. Seus lábios tremiam ou eu enxerguei demais? Ela tinha um anelzinho no dedo, tirou, pôs de novo, e quando a mãe delicadamente levantou seu rosto, ela sorriu amarelo.
- Quer saber? Ele fica contando os dias pra vir buscar você, e você mesma diz que ele faz tudo pra te agradar... vamos lá, filha, coopere, deixe que os assuntos dos adultos fiquem com eles. Aproveite o amor do papai pra você crescer segura. E quando for crescida, entenderá tudo, e não terá perdido a melhor parte da tua vida sendo injusta. Nós te amamos muito... e é justamente por isso que vou repetir até você entender que esta é a verdade!
- Também amo vocês, mamãe!! A carinha estava menos contrariada, ela envolveu o pescoço da mãe, que a aconchegou e pediu:
- Então me prometa que vai ficar bem boazinha e curtir o findi junto com o papai!
Mônica sorriu, se pôs em pé e puxou a mãe pela mão: anda logo dona **** (um apelido carinhoso que fez a mamãe sorrir abertamente). Acho que foi um sinal claro de que sua garotinha ia aproveitar este final de semana.
Acompanhei as duas andando de mãos dadas rumo ao caixa. Aquela mulher devolveu à filha mais, muito mais do que o sossego de um final de semana. E não foi amor de mãe, apenas, foi discernimento, postura, exemplo!
* Mônica - Nome fictício
20 comentários:
Lindo momento presenciaste...E tem tantos assim...beijos,chica
Pois é Chica, ela foi tão digna preservando o elo familiar, independente de seus problemas conjugais, que faltou pouco pra eu cumprimentar a moça... rsrs
Beijos, bom domingo!
Por aqui sinto na mesma escala que vc Denise, a emoção em ver uma atitude íntegra de amor verdadeiro desta mãe por esta filha; amor-protetor, celeiro duma educação primorosa.
Como seria bom se todas(os)fossem iguais a ela...
Bom domingo.
Bjos,
Calu
Que lindo, Denise! Que exemplo a ser seguido, nesta época em que se vê nas novelas e na vida exatamente o oposto: pais brigando e obrigando suas crianças a tomarem partido! Ainda ontem estive com uma jovem de 19 anos, que desde o berço esteve entre o pai e a mãe, servindo ora de arma, ora de escudo de um para outro. Quando tornou-se maior de idade, contou-me ela, olhou para os pais e falou: agora acabou, estou conquistando minha independência e saindo fora do mundo maluco de você dois, não me usem mais!
Fico muito feliz em saber que Mônica não precisará passar por isso, pois tem uma mãe sábia. Que todas sejamos assim, não importa se a situação nos favorece ou não!
É maravilhoso vir aqui, você é ótima com as palavras, sinto-me edificada. Beijos!
"As crianças aprendem mais com aquilo que os adultos fazem e com o que os pais lhes fazem, do que com o que os adultos lhes dizem."
Beijo minha querida.
Quisera eu presenciar momentos assim entre pais (separados) e filhos.Usualmente, o que vemos e ouvimos. é um cabo de guerra que os pobres ficam dilacerados por muitos anos...haja terapia pra consertar o que poderia ser simples respeito ao que foi vivido e construido.
Beijuuss lindona_maaada
Quando presenciamos momentos mágicos, parece que ficamos mais leves e de coração aberto.
Muito lindo!
Beijos mil
Olá Denize.
O conceito de família mudou e as crianças que penam.
Quando tem sorte de ter pais como esses do texto, carinhosos , compreensíveis e firmes nas decisões, serão adultos felizes.
Beijos
Maria Luiza (Lulú)
Concordo Calu, mais do que apropriada, sua atitude é amorosa, protege o maior patrimônio que a filha tem, que é a família, pra filha, intacta no seu valor e segurança.
A gente vê muita alienação parental acontecendo, muita vingança usando os filhos para atingir o outro...
Bom te ter aqui tecendo juntas!
Bjo
Nossa Suzy, nem sei o que te dizer, só que eu adoro vc aqui, tb!!
Imagine o que vejo de dor no consultório, tanto de quem serve de moeda de troca, como de quem se arrepende quando enxerga o tamanho do mal que causou... infelizmente acontece mais do que imaginamos, e as conseqüências ecoam, maioria das vezes, durante toda a vida dessas criaturas... sinto o dilacerar de seus corações que as palavras não conseguem exprimir... adultos que choram essa dor infantil...
Beijos pra vc tb, queridona!
Verdade Manuel, são esponjas a absorverem seus exemplos... e vítimas de seus destemperos e dor que os levam a cometer inconseqüentes atitudes.
Senti tua falta aqui...beijos!
Pois é Rê, como pode essa dor ultrapassar o amor pelos filhos, né? Haja terapia, tempo e amor pra curar tudo...
Bjãozão, amada!!
Verdade, Teresinha, eu senti uma sensação muito boa e reconfortante de ver nos olhinhos infantis o reflexo do amor daquela mãe!
Beijo!
Oi Lulú, nesse caso, mais do que conceito envolve a cegueira que acomete aqueles que sofrem as dores da separação, atingindo quem mais amam e deveriam proteger!
Grata pela visita, um abraço!
Oi, Denise!!
Que postura bonita dessa mãe, colocando seu amor pela filha acima de tudo, sem egoísmos!!
Coração também ficaria apertadinho escutando tal conversação.
Boa semana!!
Beijus,
Eu quis dividir justo pela rara postura que a gente vê, faltou pouco pra eu cumprimentar aquela moça forte, pq apesar do que pudesse estar sentindo, a preservação do equilíbrio e bem estar da filha ocupam o primeiro lugar. Admirável, mesmo!
Bjos, querida!
Denise, a atitude dessa mãe foi mesmo exemplar. Tenho uma filha separada, que tem uma filha de 4 anos. Ela (minha filha) também e muito consciente do lugar do pai, na vida da menina, embora ele não tenha sido nada elegante com ela, ao deixá-las. Mas que culpa tem a criança, né? E ele é um ótimo pai.
Bom seria que pais não se separassem nunca, mas tb viver em litígio só piora a situação.
Beijo e que o bebezinho chegue com alegria e paz para todos.
É verdade Lúcia, bom seria que alguns laços nunca se desfizessem, como esse da paternidade e pelo qual é legítima a luta das mães conscientes. Deixar as mágoas de lado e colocar em primeiro lugar aquilo que mais interessa, que é o bem estar do(s) filho(s) é gesto nobre de quem ama por inteiro... embora nem sempre aconteça como o desejado, muitas das vezes o tempo se encarrega de "limpar" as faltas e consolida a relação... a atitude desta mãe, da tua filha e de outras tantas, graças a Deus, é digna de evidenciar!
Tudo foi lindo, meu neto chegou e trouxe só felicidade!!
Bjos pra vc!
Denise, essa história maravilhosa, da conversa de mãe com a filha, é fantástica! Infelizmente, quando os pais se separam,a criança é usada para levar e trazer recados, raivas contidas e nenhum dos dois querem saber o que estão construindo na cabecinha da criança, que adulto estão fazendo... É a desconstrução de tudo que um dia almejaram. Pobres crianças, que futuro! Você deixou aqui um exemplo dos mais dignos, de uma mãe que pensa no futuro de um ser que gerou.
Adorei!
Beijo grande!
Pois é Tais, por força de convicção pessoal e profissional, fiquei pregada na cadeira, encantada, surpresa e gratificada... que bom seria se mais e mais houvesse a conscientização dos resultados diferentes desses que observamos... meu dia ficou outro depois disso!!
Tão bom contar com tua presença no Tecendo, compartilhando pensamentos e sentimentos!!
Obrigada!
Bjo grande pra ti!
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