Dia desses recebi de uma pessoa que me conhece razoavelmente bem, e sabe que estou vivendo uma fase que tem a ver com o assunto, a dica para ler uma crônica da Martha Medeiros, Admitir o Fracasso.
- Tá, rosnei pro texto, me conte alguma novidade!! Mas, o bichinho da inquietação me fez
voltar lá e reler, eu sabia que precisava fazer meus paralelos e organizar meus sentimentos, e essa podia sim, ser uma maneira eficaz.
- Hummm, pensei na terceira vez que li, já mergulhada em meus sentimentos para atender à necessidade real de elaborar algumas perdas recentes; é mais do que aceitar as coisas que não servem, não se ajustam mais - e também não se trata de simplesmente desistir quando as tentativas apontam para...o fracasso. E no fim do túnel não tem a tal luz? Vale a pena tentar outra vez, e mais uma... eu, antes de jogar a toalha, prefiro esgotar as possibilidades.
- Ok, e de que se trata, então?
A pergunta fervilhou por vários instantes, deu voltas e retornou sem resposta pronta, que pudesse ser aceita "pra tudo", afinal, não estamos tratando de coisas corriqueiras, mas dos meus sentimentos, ora bolas!
Investigo melhor o que me cabe neste momento de reflexão, focando no que tem sido difícil digerir, aceitar, etc e tal. É claro que sei que a ideia principal do texto é aquela velha história da viagem num trem, que por algumas estações da vida algumas pessoas que se tornam caras pra gente permanecem conosco, no mesmo vagão, indo para a mesma direção. Em algumas paradas, há quem desça, outros chegam. E muitos seguem no mesmo trem, só que em outro vagão. Uma metáfora perfeita, que à contra gosto, provavelmente ilustre os fatos. Mas, não está em mim aceitar sem discutir (tenho que rir de mim mesma) então me ponho a pensar...
- Por que é difícil soltar, deixar ir, sem maiores (des)considerações?
Sabemos que cada um constrói suas expectativas em torno das relações e pessoas, e suas crenças e desejos definem essas relações - e aí vem o nó, porque ficam grudados em mim os momentos de felicidade, as coisas vividas, as palavras ditas, os presentes escolhidos com tanto capricho, as pequenas atenções, os telefonemas e mensagens, as viagens, as crises de riso, o choro silencioso compartilhado, os gestos sem preço que tornam essas relações especiais - e as pessoas, indispensáveis em minha vida. No entanto, estes são os meus valores, a minha maneira de viver e sentir a vida, os amigos, aqueles que fazem parte da minha viagem - e resisto em deixa-los descer do meu vagão, e não porque essa relação não pode fracassar, mas porque o que fracassa é o que nutria essa relação, o desejo sincero de que uma palavra atravessada, um esquecimento, qualquer coisa sem a intenção de ferir o outro, possa roubar a beleza do que sempre foi mais importante que tudo. Fracassa o sonho de ter por perto um afeto importante. O perda do sentido daquela relação, empobrece a existência. Dói aceitar, porque eqüivale a despedir-se de alguma parte (boa) de si mesmo...
Como dar adeus pra quem é importante pra gente? Como deixar ir, assim, sem lutar pra reverter o afastamento que machuca? Não sinto inveja de quem se resolve bem, areja o sótão depois da faxina que depositou muita coisa que já foi importante, no lixo abarrotado de fracassos reconhecidos. Em mim fica o esvaziamento do sentido das coisas que foram sendo divididas. Mesmo para sair do sofrimento, eu tenho dificuldade nessa empreitada de admitir alguns fracassos - já outros, são lições que ficam para sempre, sendo o amparo necessário à continuidade da própria vida.
Isso me faz lembrar da metáfora do soltar a panela quente...
conhece?
Em nome de que ficamos segurando a panela quente??? Eu não quero procurar uma vaga maior, por hora só quero que caibam meus sentimentos neste desabafo em forma de crônica...rs