
Nossos olhos pensam que sabem ver. Mas eles podem enxergar o acréscimo que não existe ou a falta que é o coração que sente. Podem estar acostumados aos tons dos dias nublados do outono, seguidos pelas sombrias nuances do inverno, e esquecem de colorir a vida com as majestosas cores primaveris, vigorosas e alvissareiras. A imagem também pode estar sufocada pelo calor do sol abrasivo de um verão intenso. E assim, distorcida, necessita do ajuste de uma lente que a traduza com maior fidelidade. Esta, a imagem real, é o que é, não uma criação de nosso desejo ou necessidade expectante. Nem melhor do que a imagem construída, ou pior, apenas real.
A lente com que vemos o mundo e as pessoas pode ser trocada, dependendo da disponibilidade e dos objetivos envolvidos. Recomenda-se que seja colorida, para mudar o aspecto nebuloso tingido pelas decepções ou nossas frustrações. Talvez côncava, para aproximarmo-nos do fruto de nossos sagrados desejos, ou convexa, para diluir na distância do coração aquilo que não importa mais...
Os nossos olhos traem e atraem. Não se cansam de projetar ou copiar imagens amadas que ficaram seqüestradas na retina, numa eterna reprodução que parece recente, e muitas vezes, é quase póstuma. Atraem para si o que vai festejar o coração sedento, explicando assim sua repetição, evocando as belezas e expulsando as dores do mundo interno. A gente age assim, chama e expulsa...suplica e exila a presença adorada.
As lentes...elas protegem a gente. Se eu escureço o fulgor de um sonho, afasto a possibilidade do sofrimento iminente. Se dou o tom colorido da imersão completa no sonho, arrisco vivê-lo...fugaz! A escolha da lente deve estar no compasso do caminhar, não na perigosa e veloz vontade de acertar. Quero ver estrelas ou na noite de luar a tua ausência chorar???