

“Planto flores no caminho para que não me faltem as
borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo
não é o fim. É o começo."
Day Anne
Perdemos pessoas, e esta é a mais expressiva perda que sofremos - deixa marcas, vazios, abismos, e uma dor irremediável. Pela morte somos forçados a aceitar a ausência de quem amamos, considerando que a maioria de nós não saiba lidar bem com esta partida. Quando as pessoas se vão de nossas vidas, ou nós saímos das suas, vivemos o período de luto pela perda de tudo que a pessoa representa, ou representou. Ela pode ser, ou ter sido, nosso sonho mais perfeito, pode representar o significado mais absoluto da expressão felicidade. Talvez sejamos nós seu mundo mais bonito, e que, por inúmeras razões, perdeu esse valor, deixando de fazer sentido – tanto que nos deixam partir. Nos dois casos, a perda é dolorosa, e atinge as defesas que possuímos, nos cobram um preço alto e custamos a nos recompor.
No entanto, as perdas são mais presentes na nossa vida do que percebemos, enquanto vivemos o cotidiano. Perdemo-nos dos nossos sonhos, no caminho, de nós mesmos.
Perdemos a fé, a viagem, o horário. Perdemos a paciência em momentos cruciais. E perdemos a direção, o propósito, o encanto. Perdemos a ousadia nas circunstâncias em que a capacidade de ousar pode fazer a fundamental diferença.
Perdemos o lugar na fila, papéis importantes, o interesse. Oportunidades são perdidas, assim como o avião, as ideias, o bom humor. Perdemos a hora, a consulta, o amigo. Perdemos a noção, a vergonha, a postura. Perdemos o jogo, o emprego, a competição. A beleza, o espaço, a segurança. Perdemos a razão, a malícia, a vaidade. O sorteio, a festa. Perdemos a certeza. Caem os dentes, o lucro, a delicadeza. Perdemos a visão, o voto, a sanidade, a educação. Perdemos a inocência, a fala, o bonde. Perdemos a alegria, o ânimo, a constância, a determinação. Perdemos peso, bens materiais, a auto-estima.
Perdemos a melodia, o momento, o equilíbrio, a fome, o sono. Perdemos a capacidade de nos surpreender, e aos outros. Perdemos a habilidade em tratar de nossas questões e resolver os conflitos. Perdemos o suspiro de prazer, ganhamos a angústia para cuidar. Perdemos o colo, ganhamos o mundo. Perdemos o gol feito, a voz, o medo. Perdemos a esperança, o desconto que não pedimos. Perdemos as lembranças, a agilidade, a memória. Perdemos o respeito, o senso crítico, a amabilidade. Perdemos boa parte do dia dedicando atenção desnecessária a assuntos desimportantes. Perdemos a lucidez, a timidez, o desejo, a juventude. A graça, o sentido, a espontaneidade.
Perdemos chances únicas, valores antigos e tempo. Perdemos tempo entristecendo por tão pouco, considerando opiniões e pessoas que não somam, incentivando quem não quer nenhum tipo de ajuda – e deixa isso claro. Perdemos tempo acorrentados a um passado feliz, ignorando o futuro gestado num descuidando presente. E quanto tempo perdemos em lamentações, justificativas, porquês, medos, anseios, procuras vãs de coisas de pequena importância e valia! Talvez devêssemos gastar mais desse tempo repensando-nos, (re)avaliando sentimentos, comportamentos, buscando e encontrando soluções, novas formas de combater as dificuldades, resolver algumas questões, conhecer um pouco mais desse ser que construímos, e que perde sim, para ganhar experiência, força, recursos e evoluir.
Perdemos a saúde, por fim a vida. Mas, antes, corremos o risco de perder a paz, enquanto pranteamos as perdas grandes, desprezando as pequenas desistências diárias que fazemos em direção à morte... de tudo que já foi importante, da essência de tudo que nos faz sorrir e olhar a vida com os olhos curiosos de uma criança, daquilo que arrepia os sentidos, faz pulsar o coração, a vida valer a pena!
Ao final de cada texto, a Norma teceu seus pareceres. Ao meu, couberam estas considerações:
No compasso da vida atravessamos etapas naturais que são transpostas através de mudanças que significam abandonar para crescer.
No passo a passo da vida, deparamo-nos com etapas acidentais que com muita frequência nos tiram “o chão”. Entre quedas e recomeços seguimos em frente.
Viver é como mergulhar no vai e vem das ondas dos acontecimentos, navegar entre alegrias e tristezas. Viver é ter perdas imensuráveis e ganhos de grande valia. Nossa impotência diante da morte nos sinaliza a importância do aqui e agora. Nos relatos das onze semanas temos penetrado nas várias nuançes das perdas, acolhido as dores e compartilhado a oportunidade de interagir.
Quem sabe, como diz o poeta “o segredo da imortalidade é viver uma vida que vale a pena ser lembrada.”
Obrigada Denise pela sua participação que sumariza as diversas perdas aqui compartilhadas no decorrer das diversas semanas.
Norma
O dia se levantou comigo, e, enquanto eu corria contra o relógio, desfilava a agenda repleta, urgente, na minha mente.
- Calma!, adverti-me. Não há segundo economizado que valha a gastura de começar o dia correndo.
Desço pelo elevador e me dirijo ao carro com os passos apressados ecoando na garagem. Bolsa jogada no banco do passageiro, ré engatada e manobra feita enquanto o portão abre. Mais um dia, pensei, ligando o som. Na saída da garagem, um carro mal estacionado não chega a bloquear minha passagem, mas dificulta a manobra. Sistematicamente tem ocorrido esse estresse por conta de uma construção ao lado. Quando o carro parado é de passeio fica fácil, e quando dou de cara com um caminhão fechando meu acesso à rua? Ando tendo acessos de raiva - contidos. Falar com eles não tem resolvido. Mas a pressa e o trânsito logo desviam minha atenção para outros assuntos.
O compromisso da manhã tomou mais de três horas, tempo justo para almoçar e correr para o trabalho. Trânsito difícil nessa hora pra quem mora no centro, em rua de movimento intenso. Dou a seta e...de cara com um carro - outro – este sim, impedindo a manobra para entrar na garagem. Respiro fundo e acelero adiante, fazendo um percurso de algumas quadras para voltar e conseguir a proeza de fazer um balão pra tentar entrar no restinho de guia rebaixada que sobrou. A essa hora eu não estava muito feliz não, e segurei o trânsito ocupando a rua pra manobrar. Entrei, saí a pé e falei com um dos rapazes da obra, solicitando que o dono do veículo fizesse a gentileza de tirar o carro – eu ia sair em seguida. Chega a dona da construção e pergunta qual era o babado. Qual é o babado? Respiro fundo e digo que isto vem acontecendo direto e está gerando incômodo para os moradores, e que não tem resolvido pedir com educação.
- Você está nervosa, calma...
Respirei de novo...você não estaria se precisasse pedir que tua garagem estivesse livre pra você sair? E aconteceu, hoje, quando saí e quando voltei.
Tá bom, resumindo, eu falei que da próxima vez talvez chamasse o guincho. Além do barulho, a sujeira, e agora o impedimento de acesso livre?
O almoço estava ótimo, o trabalho, como sempre, ocupou-me de maneira apaixonante. A tarde morreu, anoiteceu (hoje não esfriou!) e eu lá, envolvida com os pacientes, até que o último casal saiu. Fui guardando papéis, recolhendo xícaras e copos, deixando a sala prontinha para amanhã, desligando música, apagando luzes. Fechando a clínica, sai. Você pensa que acabou?
Na fila do caixa do supermercado, depois de uma compra que acabou sendo maior porque o feriado tai e já me adiantei, a visão de meus chinelos – salto nessa hora me dá uma aflição! – depois de um banho quentinho, uma sopinha e meu sofá, me faziam fechar os olhos pra criar a cena.
Minha vez! Saem as compras do carrinho, voltam pro carrinho e são postas no carro. Do porta-malas vão para outro carrinho, que vai subir o elevador (ahhhh! meus chinelos...) gente, não parece escravos de Jô esse vai-e-vem???? ...e dele sairão para a geladeira e armários. Não antes de calçar os chinelos!
É, mas ainda não terminou!!! Antes de subir, recolher tudo que tem no carro. Cedinho ele estará na revisão! Agora sim...subiiiindooo...
Durante o banho, nasce esta crônica. Agora vou parar, juro! Mas, antes, preciso encontrar uma imagem pra postar...rsrsrs
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Será que amanhã cedo consigo sair da garagem?...rsrsrsrs
“Um ser livre é aquele que reconhece, alimenta, usa e expressa seu potencial. São pessoas despertas, que resolveram parar de culpar, reclamar e dar desculpas. São pessoas que assumiram totalmente sua responsabilidade e tem uma atitude de gratidão a cada passo. São descontraídos mas não se acomodam em zonas de conforto ou preguiça. Além de serem pacíficos e de possuírem força espiritual, pessoas livres vão além das crenças que limitam seu potencial para crescer e brilhar.”
"Deixa amadurecer as palavras para que fiquem doces ao cair do pé."
Luciana Leitão
"A única revolução possível é dentro de nós."
Mahatma Gandhi
"Não lance espinhos pelo caminho.
Na volta você pode estar de pés descalços..."
Autoria desconhecida
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