O título é o registro mais difícil que já fiz aqui, até hoje... a gente ouve, observa e imagina, mas nem se aproxima do que seja a dor de perder alguém de quem somos parte.
Quando amanheceu a última quarta-feira do mês de julho, meu pai se foi.
O tempo parou naquela manhã gelada, e, apesar do sol que apareceu em todos estes dias, nada aquece meu coração.
A gente sabe que existe um período de dor que acompanha o luto, e que não tem como precisar ou mensurar, o que a gente nem desconfia é que, quando se abate sobre nós essa perda, a dor é inexplicável - portanto, meu Pai, nem vou me esforçar pra encontrar nas palavras o que não cabe em meu coração...
Foram tantos anos de uma convivência estreita, e ainda ficaram coisas por dizer, por fazer. Fomos de poucos abraços, mas construímos uma relação que só cresceu e nos tornou mais próximos e amorosos um com o outro, e isso me faz bem pensar, me acalma, embora eu sinta falta de teus olhos azuis que nunca mais verei varrerem meu rosto, como no nosso último dia juntos. Sou grata por aquelas horas que estreitaram a gente, meu pai, num amor que você pode provar e se envolver para agasalhar teu espírito que lutava pra vencer aquele momento impotente... um dia em que teu grito mudo de socorro, ecoou dentro de mim.
Sou grata pela principal razão de havermos nos escolhido como pai e filha para, em grande parte desta caminhada, aprendêssemos juntos nossas lições mútuas, sendo um para o outro oportunidades de evolução e crescimento. De tudo, meu Pai, restou o respeito, a imensa gratidão, o amor bonito e um sentimento de paz que vai preencher aos poucos o enorme vazio que provei à mesa no almoço da família reunida, da tua poltrona vazia na sala, da falta do som do chinelo pela casa, no silêncio que respeita a tua ausência por todos os cômodos.Que aconteça a misericórdia da saudade mansa e gostosa que anunciam que chega, com o tempo, porque a dor que eu via e não compreendia... esta marcou a ferro e fogo, como no gado, pra sempre, meu coração.